domingo, 15 de junho de 2008

Estreia de material e história surreal

Trabalhava eu no estudo de caso que tenho que completar durante o meu estágio no serviço de ORL (otorrino) no Garcia de Orta durante a tarde quando o senti aquela "faísca". Estava uma tarde soalheira e bastante calor. Deve-se estar tão bem junto ao mar pensava eu, mas tinha que continuar o trabalho...
Uma hora mais tarde foi mais forte do que eu, a vontade de ir ao Mar, aquele ritual que tanto aprecio e também a vontade de testar a minha nova aquisição, a cana de spinning da Lucky Craft, modelo LCF de 2,90 m e com uma gramagem de lançamento de 10 - 30 gr, agarrei em mim, no material, e rumei sozinho à zona das Bicas como já não fazia há tempos.

Um dos spots que mais gosto.

Comecei a pescar por volta das 19:40, a água estava mexida mas bastante tapada, mas era daqueles dias em que estava com aquele "feeling".


A nova aquisição, Lucky Craft LCF 2,90 m c.w 10-30 gr, acompanhado do meu fiel Daiwa Laguna Sea Bass 3000.

Fui batendo uma zona rochosa, comecei pelas amostras de superfície, mas como não vi nenhuma actividade nem nenhum ataque, passei para o vinil enquanto ainda havia luminosidade, mas não, nem um toque.
Então, mesmo antes do cair do Sol, já que as águas estavam tapadas decido meter a "good old" Flashminnow 130 na cor MJ Herring, e lança-la para o meio de duas pedras submersas, onde aparentemente a escoa da água fazia uma corrente considerável, e quem sabe, o barulho das esferas da amostra poderia despoletar o ataque de um "sea bass" que por ali anda-se emboscado.
1º lançamento nada, apenas um molho de algas.
2º lançamento, mesmo a rasar uma das pedras....recolho 3 ou 4 maniveladas, dou 2 toques secos na amostra e paro-a. Sinto alguma coisa, e ferro instintivamente. TRÁS! Já está, o robalo começa a sua luta, dando uns bons arranques e levando ainda alguma linha ao meu Daiwa.
Depois de algumas cabeçadas e arranques, consegui traze-lo até à superfície, pensei que a luta já estivesse quase ganha. Era um bonito peixe, estimei que tivesse talvez um pouco mais que 2 kg, a cana estava a portar-se lindamente, que vara fantástica, tanto no laçamento e sensibilidade a trabalhar as amostras e leveza, assim como no combate com o peixe.
Mas quando eu pensava que a balança pendia para o meu lado, o robalo deu uma sapatada com a sua cauda e desferrou-se. E lá foi ele embora.
Bem, fiquei um pouco chateado pois tinha deixado a linha perder um pouco de tensão e a culpa provavelmente foi minha, mas fiquei com um sorriso na cara. Finalmente de novo um combate com um robalo, já tinha saudades, e umas vezes ganhamos nós, outras eles.
A maré estava a encher e o mar tinha força, decidi fazer mais 3 lançamentos antes de mudar de poiso, pois estava a escurecer e não me apetecia andar a fazer escalada às escuras e com as ondas a partirem demasiadamente perto.
Ao 3º lançamento, ao último, para o mesmo sítio, enquanto recuperava a amostra aos toques, TRÁSSSS! Ferro um robalo, deu umas cabeçadas valentes, e deu trabalho a sair, pois tive que o ir encalhar para o conseguir tirar, mas este não desferrou. A cana portou-se lindamente, safei a grade finalmente!


O adversário, pena a foto ter ficado desfocada.


Depois da luta, há que agradecer aos Deuses do Mar.



Fiquei contente, e saí dali, era altura de ir até à praia fazer mais uns lances antes de ir embora.

Quando cheguei ao areal vi que havia bastante gente a pescar ao fundo.
Coloquei-me ao lado de um colega, uns metros afastado e fui fazendo uns lançamentos para uma zona de espumeiros, até que vejo o colega pescador agarrado a uma das suas canas de fundo a correr em direcção ao mar, com ela toda vergada.
"Olá, temos aqui torpedo" Pensei eu.
Pousei as minhas coisas, e fui andando até ao camarada.
Meti conversa com ele "Então tem aí uma bizarma ferrada!"
- "Epá pois tenho, isto deve ser um ganda safio, tou a pescar com 0,60 mm da madre, e 0,50 mm no estralho, e tou a iscar com pedaços de cavala!"
Enquanto iamos falando, o carreto ia guinchando com os arranques o "torpedo" dava, impressionante, foi a primeira vez que ouvi um carreto de fundo berrar daquela maneira, afinal as histórias eram verdade.
O camarada surfcaster lá ia atrás da cana, perigosamente para junto da rebentação!
- "Amigo tenha calma, fique cá em cima, ele não foge, nós os 2 tiramos isso, mas não se encoste tanto ao mar que ainda vem uma onda e depois ainda acontece um acidente!"
O pescador mantinha-se calmo apesar dos arranques brutais que por vezes o bicho tinha.
E lá iamos os 2, corremos umas boas dezenas de metros pela praia fora, seguindo os caprichos do "torpedo".
- "Amigo, quando sentir que ele está mais perto, e quando vier uma onda grande, recolha para o tentar-mos encalhar!"
- "Epá! Não o consigo tirar!"
- "Vá nós conseguimos, vá que até tenho ali a máquina e tiramos depois umas fotos! Que animal que isso deve ser!"
Ás tantas, o camarada lá sentiu a linha mais perto da margem...
- "Amigo, vou acender a lanterna, que se lixe, mesmo que não se apanhe mais nada este bicho há-de valer a pena!"
- " Aprovei-te agora, aprovei-te agora a onda! Recolha!!!"

E o amigo assim fez....segui a linha com a lanterna, a cana vergou subitamente para terra, sinal que a onda tinha arrastado o nosso ilustre desconhecido para terra.
Corri com a lanterna acesa, tentando perceber onde ele estava, e ei-lo.
Um vulto grande, pareceu-me ser , na confusão da espuma e da escoa da onda, um enorme safio. Com a sua enorme cabeçorra, senti o coração disparar, não era a minha captura, mas podia ajudar aquele companheiro surfcaster, a sacar aquele bicho.
Quando cheguei ao pé do vulto dei-lhe um grande pontapé para ver se ele subia mais um pouco, mas nem se mexeu um cm, quando ficou a seco de vez, apontei a lanterna enquanto lhe tentei pisar a cabeça e eis que....

.....me deparo com um tubarão! Um enorme cação, de cor bronze, ali encalhado aos meus pés, um esqualo! Filh da pu**! É um cação! Gritei eu!
Um vaga sobe até nós, o bicho é arrastado contra as minhas pernas, e a ponta da minha bota fica perigosamente junto da boquinha do amigo, senti uma prisão! Mordeu-me! Tentei libertar o pé e consegui, e dei 2 saltos para trás, tal não foi o "cagaço".
Corri novamente para ele e tentei jogar-lhe a mão ao rabo para depois o arrastar para a zona onde as ondas não chegassem, mas entretanto uma onda grande subiu até nós, o bicho é arrastado de volta para o mar, passa-me junto ás pernas, ainda lhe joguei as mãos ao lombo e senti aquela pele áspera como lixa, característica dos esqualos, mas foi tarde demais, o 0,50 do estralho cedeu perto do nó da laçada.
Foi uma pena.

O bicho era desta espécie, e um pouco mais pequeno que esse.


Aqui fica uma foto de boa qualidade, de um exemplar de um cação de dimensões maiores.

O amigo surfcaster permaneceu calmo mais uma vez, e reconheceu que teria sido muito difícil tirar um bicho daqueles, muito menos quando não se está à espera. Mesmo assim fiquei a sentir-me culpado, se ao menos lhe tivesse conseguido agarrar o rabo, agora este relato era ilustrado por uma foto magnífica, não é todos os dias que se vê um animal daqueles!
Depois do "pó" assentar, fiquei à conversa com o senhor, pescador experiente daquela zona, mas que apesar de pescar ali há bastantes anos e já contar com robalos grandes e bons safios nos seus palmarés, não se lembra de ninguém que tivesse ferrado um cação por aquelas bandas.
Que aventura! É por estas e por outras que o Mar nunca me cansa, e desta vez, foi uma surpresa e pêras! Quem diz que a pesca não é um desporto de emoções fortes? Ah e é verdade, nunca, mas nunca mais gozo com a malta do surfcasting, ganhei-lhes respeito!
Um brinde a eles!



Aqui fica a foto do pescador do cação, salvo erro o senhor António Manuel (se estou em erro, se você ler isto, deixe-me uma mensagem a corrigir) com uma baila que tinha tirado antes, estas fotos já foram depois do "grande combate".

Até ao próximo lance, com ou sem cações!

11 comentários:

Fernando Corvelo disse...

Foge, foge que eles mordem...

Pedro Russo Baião disse...

Cromo, o Rasteirinho há-de trincar a tua amostra mais cara, e há de te partir a Lucky Craft em 6, e há-de gripar-te os rolamentos todos do Twin Power.

Bem haja! :D

Anônimo disse...

Excelente relato
ehehhe
Grande cagaço que deve ter sido
ihihih

Era o Peixe da vida do pescador...
Fica para a próxima!

Um abraço
Sérgio

Fernando Corvelo disse...

Já não basta partires canas ainda foste partir o estralho ao homem..."tentei dar-lhe um pontapé" ...és mesmo engraçado!!!
Lolllllll

MR disse...

Fizeste de propósito malandro partiste o estralho ao homem hehehe

Bom relato e fotos 5*****

Ab

Nuno João Ribeiro disse...

Boas Pedro

Belo relato. Deve ter sido uma emoção do caraças ver um cação aos pés e a tentar roer-te as unhas ehehe ;)
Continua assim que vais bem.

PS: Para a próxima agarra na cauda e evita a boca do bicho ;)

Abraço e boas vagas.
Nuno

Pedro Russo Baião disse...

Foi o que eu tentei, mas tarde demais.

Estejam sossegados venenosas, não parti nada o estralho, e aviei um biquero no bicho que parecia o Figo a marcar um livre directo.

xandre disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
xandre disse...

Pedro tens razão, são mesmo umas venenosas.
Já não se pode ajudar ninguém...que as venenosas aparecem logo.
As venenosas se tivessem lá não eram capazes de libertar o bicho só com um pontapé certeiro no anzol, tinham medo de mordidos...

Abraço Solidário
xandre

Nuno Bombaça disse...

Excelente relato,e grande adrenalina que deve ter sido viver esse momento,mas não leves a mal o que vou dizer,ainda bem que fugiu porque é uma espécie em vias de extinção nas nossas águas,e tenho muitas dúvidas que o pescador que o ferrou o devolve-se ao mar.

Abraço

vitor oliveira disse...

Ola Pedro,
Aqui escreve o moço que tu vistes um dia a sair da pesca sub num final de tarde.
agora que chegou a altura da pesca aos trofeus dá uma vista de olho no meu blog quando poderes.
Abraço e boas pescarias.

http://apneialusa.blogspot.com/